Meu lugar
Meu lugar no mundo fica no meio do mar. Cheira a sal, terra, mato, flores e estrume. Suas ruas de terra, nos dias de chuva, empapadas de barro, são o paraíso de bicicletas, charretes e do bondinho, mistura de jardineira e trator, que corre feliz, da estação das barcas por todos os recantos a sacolejar. Ah, o meu lugar... com suas amendoeiras enormes, guarda-sóis naturais nas areias coalhadas de conchas... avermelhado pelos flamboyans com seus galhos floridos debruçados sobre águas serenas, perfeitas para quem finge saber nadar. No meu lugar, as casas são coloridas pela profusão de flores dos caramanchões e as pessoas, que ainda podem fazer amizades sem nomes, sentam nas calçadas em frente aos portões ou nos bancos das praças e desfrutam junto com uma boa conversa, ou em silêncio respeitoso, a magia deslumbrante do sol a mergulhar. Lá soltamos nossos medos, destrancamos todos os fantasmas deixando-os passear pelas ladeiras pedregosas e somos perturbados, apenas, pelo grito estridente das cigarras. E embalados por esse som, no alto do mirante ficamos enlevados com a natureza pródiga e ao mesmo tempo, sofremos com o desmatamento desumano, padecimento de todo éden que não seja particular. Ah, o meu lugar... adormece durante meses até ser acordado por seu padroeiro, com rezas, barracas, bandeirinhas, muita música e a partir daí começa a preparação para a melhor de todas as semanas que alguém possa desejar! De caras lavadas ou mascarados, sóbrios ou encharcados, seminus ou empetecados, amantes ou amigados, na flor da idade ou encarquilhados, dentro do ventre ou em seios dependurados... todos irmanados em uma explosão de alegria que acontece lá... no meio do mar! Imagem: Arquivo particular Ly Sabas
Enviado por Ly Sabas em 02/02/2010
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