Violetas
Minhas flores favoritas sempre foram as violetas. Na adolescência sonhava casar em Setembro com um maravilhoso buquê de violetas lilases! Durante toda minha vida adulta tenho cultivado diversos vasos e quando uma adoece ou vem a fenecer, meu coração sangra a seiva que gostaria de transmitir a ela. Quando minha Irmã e meu Pai fizeram a grande viagem, dei de presente a eles as espécies mais lindas e diferentes de minha coleção. Foi maravilhoso conversar com eles enquanto molhava, adubava ou afofava a terra, para que sempre estivessem bonitas nos dois planos, espiritual e material. Meu Pai sempre gostou muito de plantas. Era ele quem cuidava, com uma fidelidade comovente, das orquídeas de seu jardim, e acho que por isso, seu vaso ficou deslumbrante, com as pequenas flores em pétalas desdobradas, de um lilás vivo com um friso mais escuro nas pontas! Linda e generosa, floresceu durante quatro anos com o mesmo frescor de uma muda nova. Já a de minha Irmã, que não dava muita atenção às suas plantas, precisava de muita conversa para desabrochar! Tinha que ser adulada e quase obrigada a manter-se bela. De repente, as duas foram embora. Senti mais uma vez a doce tristeza da separação e comecei a comparar minha vida com essas frágeis flores que gostam da claridade, mas não do sol direto. Embora cultive com lealdade e constância minhas amizades, mantenho uma camuflagem que torna invisível, até para os mais íntimos, meu verdadeiro eu. Assim como as violetas necessitam de um cuidado especial ao serem molhadas, e algumas pessoas jogam fora os vasos depois da florada por não saberem como cuidar, o mesmo pode acontecer com os amigos, que perdemos pelos canteiros da vida, simplesmente por não conseguirem nos decifrar! E ao entristecer olhando os vasos perdidos, cogitei de que assim como no plano espiritual desabrochamos para uma nova vida, algumas folhas escolhidas com muito cuidado, serviriam para o cultivo de uma nova muda. E de que isso também poderia ser feito com meus sentimentos, fossem ocultos ou declarado. Poderia transmudá-los e fazer nascer um ser mais fácil de se lidar. A nova muda do vaso de Papai está se desdobrando em brotos brilhantes e saudáveis. Já a de minha Irmãzinha querida, emurcheceu. E as minhas intenções de mudanças? Ainda não sei... Ly Sabas
Enviado por Ly Sabas em 01/11/2005
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